segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Porque se amavam de mais



Não ficaram juntos porque se amavam.
Amavam demais um ao outro. Duvido que outras pessoas tenham se amado tanto.
Mas jamais ficariam juntos, não aquele casal, não naquela vida.
Era simples, se você prestar atenção, vai entender como era simples.

Ele costumava ser alegre e doce, mas já não era.
Ela costumava ser espontânea e livre, mas hoje se sente insegura e frágil.
Eles foram feitos um para o outro: suas mãos se encaixavam como uma luva, suas vozes eram melodiosas juntas e qualquer um que visse aqueles dois sentiria que eles deveriam ser felizes, porém não eram.
Não eram porque se encontraram no tempo errado, do jeito errado e porque desta vez a dor chegou antes do amor.
Ele já se tinha amado antes, e esse era o problema.
Seu primeiro amor se foi, e ele aprendeu que era melhor racionalizar que sentir.
Sabia o quanto amar alguém machucava: Seu próprio pai também fora traído muitas vezes por muitas mulheres e morreu de tanto amor.
Ela por outro lado, fantasiou viver um romance durante um longo tempo, e o procurou em vários rostos sem jamais encontrar. Ela destilava aquele amável desespero, que idolatrava e sufocava seus amantes. Aquele afeto quase doente que de tanto cuidar, podava os ramos e cortava as asas.
Então, quando o amor finalmente chegou para ela, nos olhos fundos daquele menino, não sentiu euforia nem alegria, mas medo de perder, pois de fato sempre perdia, por querer demais.
E como ela amava aquele rapaz! Amava como jamais amara na vida qualquer outro garoto. E não ficaria com ele, porque o amava.
Sabia que seu amor, sendo imenso, o sufocaria até a morte, ela não era tola.
Ele também, mesmo sem querer a amava profundamente, porque alguém como ela merecia ser amada. Merecia atenção e cuidado. Merecia ser feliz. E conhecendo a si mesmo, sabia que o que tinha para dar era muito pouco.
Acostumado a viver sozinho e para se proteger da dor da perda, se exilava às vezes como quem busca não ter o que perder. Ele vivia fugindo e sabia que a faria sofrer...
Era só isso que costumava fazer: feri-las.
E se conhecendo bem, não ousavam ficar juntos.
Mantinham uma cautelosa relação, distante o bastante e próxima o suficiente.
Eram amigos pois precisavam um do outro. Eram amigos porque a amizade não dói nem inquieta, ela conforta.
E estavam confortáveis assim. Incompletos mas conformados.
Afinal, ele jamais deixaria de ser frio, talvez por medo de ser ferido de novo.
E ela não conseguiria amá-lo sem querer prender e possuir, e não podia machucá-lo.
Uma situação inevitável.
Talvez se a ferida tivesse chegado amanhã.
Talvez se o amor tivesse vindo ontem.
Talvez, se não se amassem, pudessem ficar juntos.
Se não se importassem tanto um com o outro, poderiam quem sabe até mesmo serem felizes.

Talvez não doesse tanto e fosse suportável, se simplesmente, não se amassem demais.

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